Antes de incursionar oficialmente na lida jornalística, o jornalzinho da escola foi muito desafiador.
Chamava-se sob nossa colaboração o “Jornalzinho do São José”, numa alusão à Escola Paroquial de 1º e 2º Graus “São José”, já extinta, mas cujas edificações permanecem nos mesmos lugares – rua Tiradentes e Avenida Brasil.
A dona Labibe Esther Esgaib Kayatt, enquanto diretora da instituição, foi nossa mentora, apoiadora e mais do que isso, incentivadora.
Além de autorizar sua confecção e circulação no ambiente escolar, “Tia” Labibe dava sugestões e dicas de pauta, além de indicar alguns patrocinadores para nossa aventura jornalística.
A seção de “Recadinhos” era a mais procurada e ocupava um bom espaço em nosso periódico, que salvo engano circulava a cada 15 dias.
As cartas eram deixadas em caixas colocadas no interior da escola, próximo da cantina e algumas espalhadas pelos corredores.
Talvez esses foram os primeiros passos para o futuro no jornalismo posteriormente.
Já circulava nas veias o sangue atrelado com as letras.
Na nossa passagem pelo curso de Administração ainda na Fap, no diretório acadêmico chegamos a nos aventurar com espécie de revista com tudo e mais um pouco que acontecia na faculdade.
Mas o projeto não foi adiante devido aos compromissos com a vida fora da faculdade.
Relembrar essa passagem me faz recordar o início do curso de Comunicação Social com ênfase em jornalismo na antiga Socigran, hoje Unigran.
Já tínhamos alguns anos de lida quando resolvi viver e se aventurar no curso para melhorar, qualificar e sobretudo, buscar aperfeiçoamento na área.
E me recordo como se fosse hoje o primeiro relato do professor que inaugurou nossas aulas.
Conta ele que estagiário recém chegado à redação de jornal recebeu a missão de cobrir a visita que o presidente da República faria à cidade no dia seguinte.
Passada as instruções mais relevantes para o candidato a jornalista não perder nenhum lance – pois seguiria sozinho na missão – o chefe de redação passa também as perguntas a serem feitas ao Chefe do Executivo da Nação.
Pois bem.
Prancheta, papel e caneta na mão lá se vai o estagiário para sua missão no aeroporto, onde aguardava diante de uma pequena multidão a chegada do avião presidencial.
Mas, eis que um fator surpresa muda totalmente o ´script´ da pauta.
Ao preparar para pousar o avião sofre uma pane, desliza na pista e explode ao capotar.
Pânico total, pessoas correndo, o desespero tomou conta.
Cabisbaixo, o jovem aprendiz de jornalista deixa o aeroporto e segue para a redação, onde chega triste.
Ao ser questionado como foi, pois naquela época não existia “zap zap” para a comunicação imediata, ele conta que não conseguiu entrevistar o presidente da República, pois o avião sofreu um acidente e explodiu na pista durante o pouso.
Nenhum registro fotográfico, nenhum detalhe anotado, nada, nada e nada de material.
Pois a missão do jovem era outra e o curso da pauta não foi cumprida conforme a missão dada.
Conclusão: ele resolveu mudar de profissão, pois o jornalismo é aguçar os instintos e adaptar-se a cada novo segundo do cotidiano e novo lance da pauta.
O relato foi um exemplo dado pelo mestre do curso de Comunicação Social para demonstrar que muitas vezes o jornalista sai a campo com uma pauta, mas no meio do caminho acontece algo que ele é obrigado a parar e apurar para também divulgar em, sendo necessário, mudar a pauta.
Aqui pela fronteira, certo período o setor madeireiro em Pedro Juan Caballero enfrentava uma crise sem precedentes.
Corria o final da década de 90.
Demissão em massa, empresas falindo, caos total no setor.
De 10 madeireiras, 9 estavam fechando nesse tempo.
Fomos à campo com a missão de apurar o que estava ocorrendo. Chegou à redação do Jornal da Praça informação de que em meio à forte crise, uma empresa sobressaía e estava contratando todos os trabalhadores demitidos do setor.
Então, recebemos a missão de apurar o segredo dessa madeireira, situada à época às margens da Ruta V, próxima onde hoje funciona o posto futurista.
E chegando, fomos recebidos pelo gerente que ao ser questionado sobre o crescimento da empresa diante da tamanha crise assolando o setor, eis que ele informa que a exportação de madeiras para a Europa dava fôlego suficiente para a sobrevivência e mais ainda, possibilitava investimentos.
Mês a mês a madeireira – cujo nome não me recordo – exportava a madeira bruta e também a trabalhada, dentro de um alto nível de qualidade.
E a empresa cumpria todas as exigências ambientais vigentes à época no Paraguai, credenciando para a exportação para a Europa.
Esse material teve muita repercussão, inclusive sendo pauta da mídia nacional nos dois lados da nossa fronteira.
Carlos Monfort
Mtb MS 144
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