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Memória: 30 anos de jornalismo na fronteira - A chance na redação e a experiência nas ruas (2)

A chance na redação e a experiência nas ruas (2)

21/06/2024 às 08h04 Atualizada em 21/06/2024 às 08h13
Por: Redação Fonte: Carlos Monfort
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Memória: 30 anos de jornalismo na fronteira - A chance na redação e a experiência nas ruas (2)

Não tem uma profissão onde os fatos mudam diariamente, a cada instante, a cada nova pauta.

O jornalismo é emocionante por conta dessa diversidade de acontecimentos no cotidiano.

É uma profissão onde raramente a monotonia está em pauta.

Como contamos no primeiro episódio desta série, os artigos divulgados frequentemente pelo O Progresso abriram a porta para o jornalismo.

Certo dia, tomando café em uma padaria, o jornalista Prudêncio Campos me liga dizendo que havia aberto uma vaga para estagiário na redação e como eu havia comentado que se pudesse aproveitaria uma oportunidade para atuar, de imediato disse que tinha interesse e no dia seguinte já estava trabalhando na redação.

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A princípio, como revisor das editorias de polícia e esporte.

Em poucos meses, já estava escrevendo sobre o esporte local em Dourados.

Não demorou muito e a oportunidade ampliou.

Como morava em Ponta Porã e O Progresso tinha um escritório de representação por aqui, a gerente Sueli Torres me convidou para trabalhar como correspondente, já que a vaga havia sido aberta com a saída do jornalista Paulo Rocaro (in memoriam).

Nessa época já tinha um ´tiquinho´ de experiência. De novato, mas tinha!

Aceitei o desafio. E não foi fácil no início, pois a área policial – a mais chamativa do jornalismo – era muito melindrosa (e continua sendo) na fronteira.

Mas com cuidado e extremo zelo fui trilhando, escrevendo não somente polícia, mas de tudo um pouco.

No início, a internet funcionava raramente na cidade.

Então, o fax era o instrumento mais usado quando o sinal discado do telefone não abria para o envio de material para a redação em Dourados via e-mail.

E quando abria o sinal, era o e-mail ainda em fase de implementação, que não funcionava.

Em um domingo de muito sol veio a mais pesada experiência na área policial desde que iniciei como correspondente.

Até então, casos corriqueiros, acidentes de trânsito e outros assuntos amenos dominavam a pauta diária.

Nesse domingo, como fazia todos os dias, passei pela delegacia e naquelas sortes de principiante, o plantão policial  do 1º DP (distrito policial) recebeu ligação informando sobre duplo homicídio ocorrido no bairro Residencial Ponta Porã 1.

Imediatamente os agentes policiais saíram de viatura e lá se vai o repórter policial atrás.

Chegando ao local indicado, o cenário era macabro: casal morto a tiros e facadas na cama, ambos seminus e sangue – mas muito sangue - espalhado pela casa.

Com a máquina fotográfica a postos, fui tomando as imagens e anotando os detalhes em cima do que os agentes iam relatando entre si para confecção do registro, mas impressionado com o cenário do crime.

Era a primeira experiência com caso “in loco”.

Corri para a redação e o texto ficou pronto por volta de meio dia daquele dia ensolarado.

Como era domingo, a Casa China onde revelávamos as fotos estava fechada e avisei a Sueli sobre a situação, com ela orientando que no período da tarde teríamos que enviar o rolo fotográfico via Queiroz.

E assim foi. Como costumeiramente fazia aos domingos, cheguei no escritório após as 16horas e imediatamente disquei para ligar o sinal da internet.

Já perto das 18horas, nada do sinal ficar 100%.

E o rolo das fotos já estava na redação em Dourados, junto a editoria de polícia, somente no aguardo do texto.

No final do prazo para envio de material, já perto das 19horas e alguma coisa, tivemos que enviar o texto por fax depois de imprimir o material.

No dia seguinte, uma foto com o devido crédito escolhida pela editoria estampava a capa de O Progresso em quatro colunas e a chamada em seis colunas.

É o que todo jornalista busca diariamente: destaque para seu material.

Era a primeira chamada emplacada no jornal diário mais importante do interior do Estado naquele ano de 1994.

As investigações revelaram posteriormente que o crime teve motivação passional.

A mulher descobriu traição do marido e contratou dois homens para matar ele e a amante. Nunca foram presos.

Depois disso, dezenas, centenas de casos foram sucedendo no setor policial.

Era um período em que a fronteira registrava achado de cadáver todos os dias, tanto de um lado como outro, os homicídios ocorriam com muita frequência, desde briga de bar até os mais complexos.

Um caso de muita repercussão e que mereceu acompanhamento diário das investigações foi sobre o assassinato de um taxista em crime de latrocínio.

Em uma manhã de muita neblina e frio em Ponta Porã, o profissional foi encontrado assassinado dentro de seu carro no bairro Jardim Estoril, em uma rua sem movimentação.

O taxista saiu do ponto na esquina das ruas Tiradentes com a Marechal Floriano na noite anterior, por volta de 19h40, conforme apurou a polícia, levando dois jovens para corrida contratada.

Era o primeiro sinal de que o taxista poderia ter sido vítima de latrocínio.

A partir daí, familiares não obtiveram mais notícias dele, que sempre retornava para casa perto da meia noite.

Mas naquela, não voltou.

Nas primeiras horas da manhã do dia seguinte, populares viram o carro (Voyage branco) em meio a uma densa cerração parado na rua com o motor ligado e desconfiaram.

Não perceberam, devido ao insulfilm, que dentro estava o corpo do taxista desaparecido.

Mas avisaram a polícia, que ao chegar ao local constatou o crime.  

Além de dois tiros – um no rosto e outro no peito – os assassinos esfaquearam a vítima, que morreu debruçada sob o volante.

Familiares notaram a falta da carteira e do aparelho celular da vítima, no que os investigadores passaram a trabalhar essa informação.

Os indícios eram de que o taxista havia sido assaltado e morto na ação. Mas era necessário, como ocorrem nestes casos, fechar o círculo dos fatos nas investigações.

No final do mesmo dia, a carteira já havia sido encontrada jogada no matagal a duas quadras onde o veículo foi encontrado.

Sem documentos e possível valor em dinheiro.

Conversando com moradores, os policiais levantaram que dois jovens haviam oferecido naquela tarde um aparelho de telefone celular para venda nas redondezas.

Não precisou de mais nada.

Passados mais alguns dias, os investigadores levantaram que um dos envolvidos morava em frente do local onde a carteira foi encontrada.

Foi um crime de latrocínio.

Esse rapaz – usuário de drogas – entregou o comparsa que já havia deixado a cidade, sendo preso dias após no interior de Mato Grosso.

São dois fatos dentre as centenas que vivenciamos nessas três décadas de jornalismo.

Até a próxima!

 

Carlos Monfort - Jornalista; Mtb MS 144

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