Não são 30 minutos, tampouco 30 horas, nem 30 dias.
Mas, 30 anos!
Em setembro, estaremos completando 360 meses de atividade ininterrupta no jornalismo na fronteira entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero.
E as experiências são inúmeras, gigantescas. Não na grandeza, mas na essência.
O objetivo não é enaltecer o individual, mas sim mostrar à geração mais nova detalhes do trabalho sem a tecnologia, quando tudo era mais moroso, mais trabalhoso e não tão rápido como acontece nos dias atuais.
Fazer jornalismo já é um desafio e fazê-lo em uma região de fronteira seca tem seus acréscimos de adrenalina, zelo e sobretudo, saber o solo em que se pisa no sentido mais concreto.
Vamos iniciar uma série de artigos para além de comemorar, relembrar fatos, ações, passagens e a experiência – positiva, negativa, dissabores - nesses 30 anos de profissão.
Fazer um paralelo entre o jornalismo de outrora dessas três décadas – e até antes disso – e o que é hoje essa profissão tão apaixonante com o advento da tecnologia e do imediatismo na notícia.
Muita coisa – mas muita coisa mesmo - mudou em termos de jornalismo.
Os “jurássicos” na profissão (e me incluo nessa “categoria”) sabem bem do que estou falando.
Iniciei a caminhar na profissão no início da década de 90, mas considero que exatamente no dia 08 de setembro de 1994 comecei a carreira, a convite de um amigo que já não está mais entre nós, Prudêncio Campos, então editor de Polícia do Jornal O Progresso, de Dourados.
Conheci Prudêncio quando ainda trabalhava em uma empresa locatária de veículos, em Dourados.
Nas ocasiões em que a empresa jornalística locava veículo, Prudêncio e seu fiel escudeiro no volante (não me recordo o nome) eram os que ou iam buscar o carro na agência ou então eu ia entregar na sede do jornal.
E com o passar do tempo fomos construindo uma amizade saudável.
Eu já tinha alguns artigos escritos e guardados na gaveta. E já havia tentado “emplacar” um no jornal, mas não deu certo.
Um dia, tomado de coragem repentina, perguntei ao Prudêncio como poderia ter um artigo publicado no jornal O Progresso, naquela época um dos mais fortes senão o mais forte jornal diário do interior do Estado.
Ele, com seu jeitão seco e direto ao assunto, disse: “me entrega datilografado e deixa comigo”.
Para os mais novos de idade entenderem.
Naquela época a tecnologia ainda gatinhava. Internet só via discagem telefônica; e-mail, por consequência, nem todos tinham acesso.
Então, era tudo datilografado na máquina ou no computador para quem tinha.
Pois bem. Passados uns dois dias, Prudêncio liga na locadora e pede para falar comigo.
“Ô Carlos (voz rouca e grossa), o negócio é o seguinte: fiz algumas pequenas alterações em seu texto, mas nada que modifique sua mensagem. Tá bom! Amanhã sai no jornal” avisou ele, despedindo-se e desligando.
A partir daquele momento, minha adrenalina foi a mil. Passou uma semana, mas o dia seguinte durou uma eternidade para chegar.
Como a empresa em que eu trabalhava era assinante do jornal, nem precisa dizer que antes do nascer do sol já estava sentado na minha mesa aguardando o entregador.
Não demorou muito e o exemplar do dia foi posto debaixo da porta principal. Era 05 de março de 1993.
Abri a página 2 – destinada aos artigos – e em primeiro plano estava meu artigo “O Brasil para os jovens ainda está distante”. Com imagem da bandeira brasileira em preto e branco.
Quando o relógio marcou oito horas fui até uma banca, comprei um exemplar e fui até a sede do jornal, que ficava a duas quadras de onde eu trabalhava.
Minha intenção era agradecer ao Prudêncio, mas o expediente dele começava as 14h.
Já à noite, passei no jornal e minha primeira paixão pela profissão foi longe da redação, mas na oficina ao ver e ouvir a máquina impressora funcionando e expelindo folhas e folhas que entravam limpa e saiam cheia de letras e imagens do outro lado.
Fiquei por alguns minutos extasiado. Vibrante. Emocionado. Alguém bateu a mão no meu ombro e disse: está gostando!?
O Prudêncio nessa hora estava em um botequim próximo do jornal degustando uma ´gelada´ para “afinar o sangue”, como dizia.
Depois disso, escrevi vários e vários artigos e passei a entrega-los direto ao chefe de redação, Vander Verão, alguém que também me deu muita orientação para melhorar o texto.
Assim foi a porta de entrada para o jornalismo.
Este primeiro episódio da série “Memória: 30 anos de jornalismo na fronteira” me faz recordar quando a fita da máquina de datilografia emperrava ou soltava as letrinhas e as vezes em que não tinha papel sulfite e ia até a escola “Adê Marques” pedir umas folhas para conseguir escrever pois não tinha à disposição.
Carlos Monfort
Jornalista (Mtb MS 144)
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