Carlos Monfort
Edição Especial
Fazia um sol bonito naquela manhã de sábado, quando a reportagem do PONTAPORAEMDIA, acompanhado dos amigos Valdir Amaro e Jorge Merey, moradores no distrito de Sanga Puitã, seguiu até o Rincão de Julho, distante cerca de 30 quilômetros de Ponta Porã, para conversar e ouvir as muitas histórias e estórias do senhor Atamarildo Alves da Silva.
Com 103 anos a serem completados em setembro próximo e mesmo com as limitações impostas pela idade avançada, ele falou sobre sua história de vida.
Ele é testemunha viva de Ponta Porã ao longo dos 111 anos de história da ´Princesinha dos Ervais´, desde os tempos em que a comunicação era demorada e dependia de uma série de fatores e circunstâncias.
Na casa de madeira, naquela manhã ele não estava sentindo-se muito bem de saúde: com muita tosse, acordou um pouco mais tarde diante da indisposição.
Antes do sol amanhecer, ele recebeu a visita do enfermeiro Alci Paim, seu enteado e que há muitos anos acompanha a saúde de Atamarildo.
Alci foi colher sangue para a realização de exames, já que a tosse dos últimos dias estava preocupando.
Quando a reportagem do PONTAPORAEMDIA chegou, foi recebida pela dona de casa Irene Vareiro Aguillera, atual companheira de Atamarildo e responsável em cuidar do dia a dia do companheiro de muitos anos.
D. Irene possui 9 filhos.
Também com dificuldades de saúde, mas sempre disposta e muito falante, ela saiu só um pouco para receber nossa reportagem e os amigos e logo avisou: “vamos entrar, pois o Atamarildo não está muito bem, mas está tomando seu mate do lado do fogão”, relata, puxando as visitas para a aconchegante residência, pequena, mas muito limpa e tudo organizado.
Na sala, o conjunto de sofá, a tradicional televisão e algumas peças de decoração.
Atamarildo apresentava leve estado febril, mas já havia sido medicado, tomado o remédio antes do sol nascer, voltando a dormir.
Acordou meia hora depois, já por volta de 05h30 para o tradicional mate.
Sentado em uma cadeira de madeira, a janela aberta garantindo a entrada dos raios solares, Atamarildo tomava seu mate e ao ver a chegada dos visitantes, logo perguntou quem eram as pessoas ali em sua cozinha.
D. Irene, sabendo como dialogar com o companheiro, respondeu e ele foi cumprimentando a todos, sentado e oferecendo seu mate.
A chaleira esquentava a água no fogão a lenha, fogo baixo mas garantindo a água na temperatura ao gosto de Atamarildo.
Nascido em 14 de setembro de 1920, 10 filhos de três casamentos, Atamarildo Alves da Silva sempre lidou no campo.
Morador há muitas décadas no Rincão de Julho – ele não se recorda quanto tempo – sua propriedade foi adquirida com o passar dos anos e fruto de muito trabalho na lida.
D. Irene diz orgulhosa que “aqui é tudo dele. Sempre trabalhou muito para comprar e hoje está aqui tranquilo, vivendo no que é seu”, pontua a falante e extrovertida dona de casa.
No fogão, ela já esquentava uma chaleira d´água para preparar o almoço daquele dia.
A fumaça já mostrava que a água fervia e ela imediatamente foi desligar o fogão, sem antes pedir licença para efetuar sua tarefa, ali a poucos passos de onde a roda de conversava acontecia.
A cozinha pequena transformou-se em uma mansão tamanha a receptividade do casal, que com todas as dificuldades inerentes à idade – principalmente de audição – preocuparam-se em bem atender seus visitantes.
A conversa com ´seo´ Atamarildo rolava enquanto a D. Irene prestava atenção a tudo para que o companheiro pudesse responder às perguntas e também contar suas estórias de vida.
“Sempre ajudei muito as pessoas. Nunca fui de negar nada a ninguém. Mesmo quando não podia, eu dava um jeito e conseguia ajudar quem realmente precisava. Uma vez um amigo disse que estava passando fome, não tinha trabalho e eu tinha pouco dinheiro, mas foi o suficiente para emprestar a ele para que pudesse fazer compras de comida para a esposa e os filhos”, relatou dentre outros episódios contados por ele.
Incomodado pelo fato dos visitantes estarem em pé, pediu para a esposa preparar cadeiras para que sentassem.
Dos 10 filhos – sete homens e três mulheres – apenas três estão vivos.
Mesmo diante disso, ele não perde a esperança nunca.
Esperança de ver o sol nascer a cada novo dia, poder tomar seu mate matutino e saborear o almoço da companheira.
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