Por Carlos Monfort (*)
Toda fronteira é um lugar diferenciado com suas peculiaridades e particularidades.
Mas a fronteira entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero é demasiada rica em histórias e estórias das mais diversas.
As reais nem sempre podem ser contadas abertamente, devido aos riscos iminentes que todo bom fronteiriço conhece em detalhes.
Mas, as nossas histórias estão aí para serem contadas.
Uma delas refere-se ao passado não tão distante assim, lá pelo meio da década dos anos 2000, quando o bumerangue do comércio fronteiriço com suas idas e vindas provocava volta e meia muitas discussões, debates e muitos ´finalmentes´ de diversas formas e contornos.
Uma delas, que muita gente vai lembrar nas primeiras próximas linhas, diz respeito ao enfrentamento ocorrido na linha internacional por conta da “guerra” entre os comércios de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero.
Nesse episódio, a disputa era acirrada na venda de combustíveis.
Pedro Juan assistia a multiplicação dos postos de combustíveis em uma velocidade estratosférica, enquanto que em Ponta Porã esse ramo padecia.
Mas essa concorrência “desleal” quase produziu uma tragédia entre “lideranças” fronteiriças quando houve a abertura de valetas para impedir o trânsito de um lado para outro da fronteira de consumidores em busca de preço menor no lado paraguaio.
Determinada liderança aqui batizada de “Y” resolveu por conta própria “fechar” a linha internacional na altura do trevo de acesso à MS 164, para impedir que consumidores de Ponta Porã atravessassem a linha internacional em busca de combustível em posto recém inaugurado nas proximidades.
Os prefeitos à época das duas cidades foram avisados da decisão de fechamento do trecho urbano entre Ponta Porã e Pedro Juan.
Ficaram mudos, surdos e calados.
As autoridades policiais idem, mas tiveram a mesma reação. Pasmem!
Máquinas amanheceram no local e passaram a abrir valetas gigantes bem na linha divisória.
Em poucos minutos, a ´muvuca´ estava armada.
Diante da inusitada situação, outras “lideranças” e suas respectivas “assessorias” dos dois lados da fronteira foram acionadas visando barrar a ação.
Em vão.
“Liderança R” chegou armado até debaixo das orelhas, mas teve que se conter diante do artefato bélico superior encontrado no local.
O trabalho estava ´monitorado´ por seguranças fortemente armados da liderança Y que avisavam: quem chegar perto receberá o ´bem vindo´.
Com isso, armou-se uma ´batalha´ de seguranças armados até os dentes dos diferentes segmentos diretamente ligados à situação instalada.
Em determinada altura dos acontecimentos e frente ao delicado clima de guerra, “liderança F” chegou acompanhado de um comboio de veículos.
Ao descer, dirigiu-se à liderança Y e deu a ordem: o circo montado deveria, obrigatoriamente, ser desmontado em questão de meia hora, caso contrário, a tragédia estava anunciada.
Isso tudo sob o olhar de profissionais da imprensa dos dois lados da fronteira, além de uma multidão de curiosos, atônitos com a cena de guerra diante do forte armamento empregado.
O aviso era claro:
Uma vez o circo não desmontado, a plateia assistiria ao que poderia ter sido a maior das tragédias e derramamento de sangue jamais visto nesta fronteira que muito já assistiu em termos de violência.
Como o recado foi dado em alto e bom tom, o circo foi “desarmado” em questão de minutos - máquinas foram recolhidas e os seguranças idem, recolheram-se silenciosamente.
Posteriormente, máquinas da prefeitura pedrojuanina chegaram para restabelecer a ordem e reabrir o acesso ao lado paraguaio, sem mais nenhuma ameaça.
Essa foi uma das ocorrências “inusitadas” produzidas na linha internacional.
Em outra oportunidade relataremos a "guerra" provocada pelas águas pluviais na linha internacional, que também atraiu ao local do entrevero "péz gordos" - como são chamadas as "lideranças" do lado de "allá de nuestra frontera".
(*) Jornalista.
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