Na infância e adolescência, ele foi nosso técnico no “Primero de Marzo”.
Time ´saco de pancadas´ em amistosos e competições, mas nosso grupo comandado por Zenon Valdez não baixava a guarda e partia com tudo, mesmo que derrotado por “enes a zero”.
Ele não deixava nosso time baixar a cabeça, treinávamos na praça ´Tenente Valdez´ todo final de tarde.
Esse foi o começo de nossa amizade com ele – Zenon Valdez, o ´canillita´ (canela pequena) – e se estendeu até o dia em que foi atropelado no final da tarde de 18 de novembro.
Pela manhã daquele fatídico dia, o encontrei coincidentemente na esquina da mesma praça onde treinávamos e com o peculiar grito em que nos cumprimentávamos – “canillitaaaa” - e ele - “Carlitooooo” –.
Assim foi a despedida, infelizmente, do nosso amigo de décadas, de muitos e muitos anos.
De origem muito humilde, Zenon era personagem folclórico em Pedro Juan Caballero.
Fato raro nos dias de insegurança total e plena, ele podia entrar em qualquer residência sem bater palma tamanho seu grau de conhecimento e amizade com todos. Mas, raramente ´canillita´ adentrava nos lares de seus milhares de amigos sem se anunciar antes e pedir licença.
Assim era Zenon. Humilde, educado. Vendia jornais impressos desde a infância, quando ajudava a falecida mãe na subsistência.
Depois, para reforçar o orçamento familiar, passou a vender os famosos ´binguitos´, febre em Pedro Juan na transmissão radial dos sorteios.
Zenon morreu quando pedalava sua companheira inseparável de anos e anos: a Monark azul.
Nela, carregava sua vida diariamente e ganhava o pão de cada dia em cada pedalada. Percorria a cidade inteira, faça chuva ou sol, desde o nascer até o pôr do mesmo sol.
Morreu sem ter a devida atenção do condutor do automóvel envolvido no acidente.
Talvez se o condutor – ou condutora – soubesse que o piloto da bicicleta fosse Zenon, com certeza o teria acudido.
Quem não conhecia o ´canillita´?
Com sua origem humilde e extremamente honesto e trabalhador, Zenon frequentava todos os ambientes.
Tamanho seu coração, que durante muitas décadas nesta época do ano Zenon Valdez pedalava ao entorno da estátua de Pedro Juan Caballero na praça Tenente Valdez para arrecadar brinquedos, roupas e alimentos para os menos favorecidos.
Passava dias e dias pedalando sem parar, 24 horas por dia até ás vésperas do Natal.
Esse foi Zenon Valdez. Um cidadão honesto, humilde, que viveu para viver sua humildade da melhor forma possível, e mesmo diante de todas as dificuldades colocadas pela vida, brilhou sem ser estrela, trilhou o caminho do bem, marchou mansa e serenamente a trilha da vida.
Zenon Valdez - ´el canilhita´ - merece todas as homenagens.
O merecia em vida, mas a vida nem sempre nos “regala” com aquilo que merecemos.!
Carlos Monfort
Jornalista
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